sábado, 23 de julho de 2011

MANAUS DOS MEUS SONHOS. QUE MARAVILHA!




Dia desses, agitado, céu nublado, garoa chove-não-molha, nuvens cinzentas disputando corridas entre si, vento frio da passagem ora verão, mas próximo do inverno, trânsito lento, buzinaço aqui e acolá, pessoas apressadas, estressadas, estudantes, trabalhadores e eu, aqui com meus botões, absorto em meus pensamentos, manobrando o carro no estacionamento de propriedade do flanelinha, até que chegue a terceirização do Zona Azul. Não mais que de repente, eis que surge um azulzinho - aquele guarda da prefeitura que tenta controlar o trânsito - gentil e inebriado pela brisa, puxa a conversa me dizendo que ele estava ali para orientar os motoristas.
Caiu por terra a minha concepção de que esses “controladores” do trânsito, trabalhadores como nós, só surgiam em algum lugar, com a sua farda azul, caneta e talão na mão, para multar a gente, muito embora eu estivesse totalmente regular, dentro da lei; ledo engano, tinha outra concepção sobre aquele cidadão do trânsito. Dos males, o menor. O guarda estava ali para orientar. Pensei comigo: ‘se tivesse um foguete iria detonar agora, que alegria, que maravilha é Manaus’! Nesse momento pensei o quanto é bom morar numa cidade como a nossa, que ascendeu à metrópole do Norte, graças aos benefícios fiscais advindos da Zona Franca de Manaus (ZFM) e o trabalho de milhares migrantes que chegaram aqui à procura da melhoria de vida.
Mas dentro dessa próspera cidade, enclausurada num país onde a corrupção virou cultura e Têmis, a deusa da justiça, tirou a venda dos olhos porque ficou cega, literalmente, existem outros tipos de “trabalhadores, salvadores da pátria”, engravatados, que usam da retórica para ludibriar o analfabeto político e se locupletar com o erário público, de acordo com seu peso na balança e afiação (ou afiança?) da espada do Poder. Que maravilha!
Foi assim, pensando na atitude daquele guarda, que apertei o Enter do meu repositório mnemônico e na tela das minhas lembranças começaram a passar vários tapes (mas se apertei no Enter, será que não era DVD?) propagado ao longo dos tempos duros da minha vida, mas sem que eu tenha perdido a ternura, jamais! Barbaridade, Che!
Em seguida cliquei em ok e o DVD, nesse caso, pirata, começou a mostrar a Manaus da mídia, exaltada pelo Fui Eu Que Fiz, Fala Governador e Café com a Presidenta, mostrando que na nossa cidade, uma das sub sedes da Copa de 2014, o sistema de transporte coletivo é perfeito, com Metrô de Superfície, Bus Rapid Transit (BTR) e ônibus, novinhos em folha como opção – cacarecos, nem pensar; a Secretaria de Segurança acabou com os assaltos a criminalidade foi extinta, eliminou os policiais corruptos, prendeu os criminosos da motocicleta, colocou os passadores de drogas nos bancos de réus, sem direito à fiança porque os juízes, todos éticos, não assinam mais habeas corpus para esse tipo de crime. Por outro lado, já que não tem traficante, a cidade também não tem drogas e nem cheira-colas, viciados em cocaína, crack, oxi e outros entorpecentes. Que maravilha!
De repente pensei que estava tendo um pesadelo. Já estava atrasado para trabalhar, mas lembrei que o DVD ainda estava no começo. Ainda faltavam outras questões como a eliminação definitiva das invasões de terra, a erradicação da miséria no interior do estado (promessa de campanha da presidenta), a inexistência de obras superfaturadas, de filas em hospitais, de filas para matricular os filhos nas escolas, dos engarrafamentos no trânsito. Como esses assuntos são muito longos, volto para assistir em outra oportunidade.
É muita prosperidade, também, pudera! Manaus é a quarta economia do país, (tem dinheiro saindo pelas cuecas, nascendo nos forros das casas, parindo dentro de aviões, chocando em caixas de papelão - doados pelos fiéis); as indústrias do PIM arrecadam mais de US$ 30 bi com exportações. Enquanto Belém, a antiga metrópole do Norte possui uma frota de 300 mil carros, Manaus já tem 520 mil porque temos uma refinaria de petróleo que produz gasolina barata. Que maravilha!
Dei uma pausa no DVD da minha memória, estacionei o carro e fui trabalhar. Nesse momento lamentei que a prefeitura de Manaus estivesse passando por uma crise de competência, privatizando o patrimônio do povo por falta de secretários competentes. A experiência já deu certo com o BEA, Gás, Cosama e vai dar certo com o Lixo, Zona Azul, Ponta Negra, Camelódromo, Parques, Feiras e Mercados Públicos. Nesses lugares existem muitos ratos.
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, então governador e capitão-general do Grão Pará e Maranhão, quando implantou a Capitania de São José do Rio Negro, de acordo com a Carta Régia de 3 de março de 1755, nunca imaginou que chegaríamos a esses índices de prosperidade. “É dando que se recebe”, diria outro Francisco: o das Chagas.
Quando voltei do trabalho e fui pegar o meu carro, lá estava ela: a maldita multa por ‘estacionamento irregular’. Até hoje tento encontrar aquele azulzinho bacana. Que maravilha!
Por: Jorge Negreiros      
Presidente do Sindicato dos Aeroviários do Amazonas (Sindamazon)
 

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